Figuras de linguagem

Figuras de linguagem

Figuras principais:

O estudo das figuras de linguagem pertence à Retórica. Ocupar-nos-emos aqui apenas daquilo que interessa mais diretamente  ao texto bíblico e a sua exegese.

1. Metáfora. É a figura em que se afirma que alguma coisa é o que ela representa ou simboliza, ou com que se compara.

A metáfora só se distingue do símile por lhe faltar o elemento de comparação que há neste. Quando Isaias, por exemplo, falando do Messias, diz: "Foi subindo como renovo", emprega um símile, uma comparação, em que não há figura. Quando, porém, o Senhor diz por Zacarias: "Eis aqui farei vir o meu servo, o Renovo", temos uma verdadeira metáfora.

Em João 6.55, Jesus afirma: "A minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida". Tomando literalmente essas asserções, muitos dos seus discípulos disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? O Senhor, porém, defaz a dificuldade quando revela a metáfora de suas palavras: "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida" (v. 63). É claro que esta mesma revelação esclarece também aquelas outras palavras do mesmo Jesus proferidas na instituição da eucarístia: "Isto é o meu corpo... este cálice é o meu sangue". O sentido figurado destas últimas asserções torna-se ainda mais evidente quando consideramos que se trata de uma ordenança, em que necessariamente hå de haver símbolos. Uma ordenança sem símbolos deixaria de ser sacramento para ser a própria coisa simbolizada.

2. Metonímia. É o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que tem certa relação.

Por exemplo:

a) Do efeito pela causa

Gn 25.23. "Duas nações há em teu ventre". Os progenitores pelas descendências.

b) Da causa pelo efeito -

Lc 16.29. "Têm Moisés e os profetas". Os autores por seus escritos.

c) Do sujeito pelo atributo ou adjunto - Gn 41.13. "Como ele nos interpretou". Os sonhado res por seus sonhos.

d) Do atributo ou adjunto pelo sujeito -

Jó 32.7. "Falem os dias e a multidão dos anos ensine a sabedoria". A idade por aqueles que a têm.

3. Sinédoque. É a substituição de uma ideia por outra que lhe é associada.

Por exemplo:

a) Do gênero pela espécie do geral pelo particular. - Mt 3.5. "Ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judeia, e toda a província adjacente do Jordão".

Gn 6.12. "E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida..."

b) Da espécie pelo gênero o particular pelo geral. Mt 6.11. "O pão nosso de cada dia nos dá hoje".
c) Do todo pela parte.

Gn 3.19. "És pó, e ao pó voltarás".

d) Da parte pelo todo. Gn 3.19. "No suor do teu rosto comerás o teu pão".
 
4. Hipérbole. É a afirmação em que as palavras vão além da realidade literal das coisas.

Dt 1.28. "As cidades são grandes e fortificadas até aos céus".

5. Ironia. É a expressão de um pensamento em palavras que, literalmente entendidas, exprimiriam o pensamento oposto.

a) Usada por Deus:

Gn 3.22. "Eis que o homem é como um de Nós, sabendo o bem e o mal".

Juizes 10.14. "Clamai aos deuses que escolhestes; eles que vos livrem no tempo de vosso aperto."

b) Usada por homens:

Jó 12.2. "Na verdade, que só vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria".
Mt 27.40. "Tu, que destrói o templo e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo; se és Filho de Deus, desce da cruz".

6. Prosopopéia. É a personificação de coisas ou de seres irracionais.

Salmo 35.10. "Todos os meus ossos dirão: Senhor, quem é como tu?"

Jó 12.7. "Pergunta agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará: e às aves do céu, e elas to farão saber".

Gn 4.4, 10. "A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra".

7. Antropomorfismo. É a linguagem que atribue a Deus ações e faculdades humanas, e até órgãos e membros do corpo humano.

Gn 8.12. "O Senhor cheirou o suave cheiro, e disse o Senhor no seu coração".

Salmos 74.11. "Porque retiras a tua mão, sim, a tua destra? tira-a do teu seio, e consome-os.
8.
Enigma. É a enunciação de uma ideia em linguagem difícil de entender. Não é do domínio geral das Escrituras. Apenas temos enigma propriamente dito no caso de Sansão com os filisteus.

Juizes 14.14. "Do comedor saiu comida, e doçura saiu do forte".

9. Alegoria. É a narrativa em que as pessoas representam ideias, ou princípios. As narrativas bíblicas são históricas, verídicas, e não alegóricas. Temos, no entanto, uma interessante aplicação alegórica, feita por Paulo, do incidente de Agar e Sara e seus respectivos filhos. Gl 4.21-31.

10. Símbolo. É o emprego de algum objeto material para evocar ideia ou coisa espiritual ou moral.

11. Tipo. É a representação de pessoa ou transação futura na esfera espiritual ou religiosa por meio de transações, pessoas ou coisas do mundo material que tenham com elas certa correlação de analogia ou mesmo de contraste.

O símbolo e o tipo são duas espécies de emblema quanto aos caraterísticos gerais; distinguem-se, porém, nos seguintes pontos:

a) O tipo é essencialmente da esfera religiosa. Adão foi tipo de Cristo como cabeça federal de uma raça; o cordeiro pascoal foi tipo do mesmo Cristo como sacrifício redentor.

O símbolo, porém, é de uso geral entre os homens. A oliveira é símbolo de paz; o louro. da vitória, etc.

b) O tipo tem referência a eventos que lhe são futuros. São, por isso, encontrados no Antigo Testamento, e seus antitipos, no Novo.

O símbolo não tem referência temporal alguma.

c) No tipo há analogias bem notáveis para com o antítipo.

Ao símbolo basta sugerir a coisa simbolizada.

12. Parábola. É uma narrativa de acontecimento real ou imaginário em que tanto as pessoas como as coisas e as ações correspondem a verdades de ordem espiritual e moral.
 
Fonte: MANUAL DE HERMENÊUTICA SAGRADA - ANTÔNIO ALMEIDA - ed. GIEL

A CIÊNCIA DE INTERPRETAR A BÍBLIA - PR. MÁRCIO RUBEN
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